VW Tipo 32 (protótipo)
O engenheiro Ferdinand Porsche encontrava-se numa posição difícil, sem um capitalista para concretizar o seu ambicioso projecto de construir um carro acessível à maioria da população alemã, e precisava de alguém muito poderoso para patrocinar a iniciativa. A salvação do "Carocha" aconteceu quando Adolf Hitler entrou em cena. Gostemos ou não do ditador, a verdade é que sem o seu apoio o projecto Carocha nunca teria sido uma realidade. Este legado é certamente o único que poderemos agradecer a Adolfo Hitler. A propaganda nazi também pretendia um novo carro, barato, para mostrar ao mundo, um "Volkswagen" ("Carro do Povo"), como um triunfo dos germânicos. Adolfo Hitler foi informado do embrionário projecto Type 32 por um ex-sócio da Porsche na Daimler-Benz chamado Jakob Werlin. Ferdinand Porsche viajou até Berlim e encontrou-se com Hitler, que já tinha um conhecimento suficientemente profundo sobre o carro e deu algumas ideias sobre as características do futuro "Volkswagen". Meses depois, apesar da relutância dos fabricantes alemães, a todo poderosa Associação Alemã dos Fabricantes de Automóveis (RDA), o estado estabeleceu com Porsche um contrato para desenvolver um novo veículo financiado pelo governo alemão, um carro de família com lugar para 4 pessoas, com um motor refrigerado a ar, um consumo de 7 litros aos 100 km e capaz de atingir os 100 km / h. Vinha aí o Carocha.
O prazo para desenvolver o projeto era exíguo, apenas seis meses. Em dezembro de 1934 o número de protótipos encomendados passou para 3, de acordo com a filosofia de Porsche. Embora o prazo fosse curto, Porsche temia desagradar Hitler e, portanto, em 1935, dois modelos ainda um tanto rústicos estavam prontos. Com fundo de madeira e motores dois tempos de 850cc, os modelos eram um sedan de carroceria fechada - chamado Versuch 1 (V1), ou "Protótipo 1" - e um conversível, V2, feito para agradar o Führer, entusiasta por conversíveis.
Em 12 de outubro de 1936 os dois pré-protótipos, mais um com carroceria em aço (que somado a outros dois em aço, construídos com a ajuda da Daimler-Benz, formariam a Série W30) foram entregues à RDA para os testes (dois dos carros contavam com o motor que acabaria sendo escolhido para o Carocha. Em três meses cada um deles rodou 50 mil quilômetros, enfrentando os piores terrenos, durante uma rotina de testes seis dias por semana. Para satisfação de Porsche, o relatório final da RDA aprovava o projecto.
VW Tipo 60 descapotável (protótipo)
Em 1937 foram produzidos trinta modelos de uma versão revista do projecto, incluindo modificações oriundas da bateria de testes anterior. Produzidos pela Daimler-Benz e financiados pela RDA, essa série ficou conhecida como VW30, e era muito semelhante ao produto final, embora sem janela traseira e sem para-choques (nas primeiras fases do projeto, posteriormente foram equipados com para-choques). Esses modelos foram submetidos a uma bateria de testes ainda mais dura, chegando os trinta em conjunto a rodar 2,4 milhões de quilômetros nas mãos de membros da SS, a tropa de elite de Hitler.
Em 1936-37 Porsche viajou para os EUA, onde acompanhou os processos de fabricação em série. Ferdinand Porsche trouxe de lá alemães habituados a trabalhar em Detroit, que o ajudariam a viabilizar a fabricação em massa do projecto. Contando com essa ajuda, Erwin Komenda pôde então trabalhar na forma final do carro. Ele fez então uma maquete de pré-produção, em madeira e tamanho natural. De entre as mudanças mais visíveis estão as janelas traseiras bi-partidas (incorporadas em 1937 pela Reutter), a tampa do motor e do capot e as portas com abertura normal, além dos estribos (os modelos de teste ficavam muito sujos nas estradas mais precárias).
Com a finalização do projecto, máquinas e ferramentas foram também trazidas dos EUA. Cerca de quarenta e quatro modelos em metal dessa nova série (VW38/39) foram então fabricados, para altos executivos e para fins de propaganda e exibição.
Paralelamente a isso, a Tatra, fabricante dos T77 e T87 na Checoslováquia, vinha desenvolvendo carros semelhantes ao Carocha desde 1932 (protótipo V570). Hitler era um admirador dos velozes carros, e certa vez comentou: "Estes são os carros para minhas autobahns". Porsche conhecia Hanz Ledwinka, o projectista dos Tatras. Com a finalização dos testes do Carocha e sua iminente entrada em produção, a Tatra foi forçada pelas forças de ocupação alemãs a desistir do projeto T97 (praticamente igual ao protótipo VW30)
Devido a um pedido de subsídio que a RDA fez, e à oposição de Porsche a este pedido, a RDA acabou rompendo com o projecto do Volkswagen. Porsche estava convencido que com um bem planejado sistema de produção em massa poderia construir o carro ao preço sugerido e sem o subsídio.
O VW protótipo sem janela traseira
O carro foi baptizado oficialmente de KdF-wagen, e a KdF decidiu que cada carro seria vendido por um sistema em que o interessado deveria pagar cinco marcos por semana e tomar posse do carro apenas depois de completar os pagamentos. Apesar de não saberem exactamente quando o carro ficaria pronto, cerca de 300 mil alemães aderiram ao plano.Foi fundada então já em 1937 a Gesellschaft Zur Vorbereitung des Deutschen Volkswagen, GmbH (GeZuVor), em português, "Sociedade para a Produção do Automóvel Popular Alemão", ficando responsável pela produção do carro. O GeZuVor era parte integrante do Deutsches Arbeiter Front (DAF), ou "Frente de Trabalhadores Alemães", que era uma organização custeada por contribuições dos trabalhadores. Uma outra secção chamada "Kraft durch Freude", (ou KdF), "Força pela Alegria" ficou responsável pelo sistema de vendas do carro.
Em 26 de maio de 1938 foi colocada a pedra basilar da fábrica, com a presença do próprio Hitler. Mais de setenta mil pessoas participaram da solenidade. O evento teve pesada cobertura nos media alemães, gerando alguma repercussão internacional, ideia do próprio Hitler, que pretendia exportar o carro para vários países.
Hitler inaugura fábrica de Wolfsburg
Em 15 de agosto de 1940 o primeiro KdF Wagen deixou oficialmente a linha de produção, agora com nome interno "VW Typ 1". Era azul escuro/acinzentado, assim como seriam todos os KdF vendidos. Entretanto, até 1944 apenas 640 deles seriam produzidos, e nenhum chegaria às mãos dos que aderiram ao plano dos 5 marcos. Todos seriam distribuídos entre a elite do partido nazi.
No entanto, em 1939, com a inevitável eclosão de uma guerra na Europa, todos os recursos disponíveis foram destinados ao esforço de guerra alemão. A Volkswagen, anteriormente um grande instrumento de propaganda da capacidade tecnológica alemã, foi rapidamente integrada nas ambições militares de Hitler. A produção foi interrompida e a fábrica dedicou-se a produzir veículos de guerra baseados na plataforma do Carocha - usos previstos por Porsche, no seu projecto de carroceria separada do chassis, e pelo próprio Hitler, que tinha este uso em mente por trás da própria iniciativa em financiar todo o projecto.
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