A CHAIMITE V-200 "made in Portugal"
O embargo de armas a Portugal por parte dos nossos "aliados" durante a Guerra de África obrigava os dirigentes políticos e militares a puxarem pela imaginação para equiparem e manterem operacionais as Forças Armadas nos teatros de guerra de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau mais a rectaguarda no Continente.
O "parto" da Chaimite foi atribulado e pode-se dizer que nasceu de uma complicada "cesariana". A falta de veículos blindados de qualidade, modernos e adequados à frente de batalha no Ultramar levou Portugal a tentar adquirir carros de combate Cadillac Commando V-100 aos Estados Unidos. Apesar de serem um país "aliado" as nossas pretensões foram recusadas com o pretexto de que seriam empregues numa guerra colonial e não no âmbito da NATO.
A determinação portuguesa prevaleceu e o ministro do Exército convidou o major na reserva Donas-Botto, um empresário ligado à área militar e desse contacto nasceu o projecto-Chaimite. Tratava-se de uma viatura blindada, armada e capaz de transportar pessoal com características suficientes para evitar o maior número possível de baixas nas emboscadas e minas nas estradas e picadas do Ultramar.
O projecto avançou num anexo secreto das OGME, em Belém, com a colaboração de um engenheiro americano ligado à construção do "gémeo" Cadillac Commando V-100. Mais tarde este engenheiro seria julgado e condenado nos Estados Unidos por fornecer tecnologia militar ao estrangeiro, como se Portugal fosse um país inimigo.
Rapidamente foi formada a BRAVIA – Sociedade Luso-Brasileira de Viaturas e Equipamentos, SARL, para construir a Chaimite com as seguintes características: Viatura blindada de transporte de pessoal de quatro rodas motrizes com blocagem automática dos diferenciais e equipadas com pneus de combate de doze lonas, anfíbio com chapa blindada especial à prova de bala de calibre 7,62 mm a 0% de obliquidade e com alça mínima e chapa de fundo não estilhaçavel; Tripulação: 1 + 10 (Condutor + Passageiros); Motor: 1 Chrysler x Modelo M75 V8 a gasolina arrefecido a água com 210 hp às 3.600 rpm (1967); 1 x Modelo Cummins V6 a gasóleo com 155 hp às 3.300 rpm (1987); Dimensões: comprimento: 5,60 metros; largura: 2,26 metros; altura: 2,39 metros; Blindagem: chapa à prova de bala até cartuchos de 7,62 mm; Peso: vazio: 6.818 kg; combate: 7.622 kg.
Desempenho: velocidade (máxima): 90 km/h (estrada); obstáculo vertical: 0,90 metros; autonomia: 800 quilómetros (estrada); 640 quilómetros (todo terreno); Capacidade de combustivel: 300 litros (2 x 150 litros).
Consumo: 40 litros (estrada) 48 litros (todo terreno); Armamento: 2 x metralhadoras HK-21 de 7,62 mm; 1 x morteiro de 81 mm; 1 x metralhadora de 12,7 mm; 2 x lançadores de mísseis SS11B1; oito tubos lança-foguetes de 88,9 mm (Armada 90); Outros equipamentos: guincho de accionamento hidráulico com capacidade máxima de 4.540 quilogramas.
Inicialmente a blindagem foi construída na Sorefame, mas o maior problema surgiu com o armamento. As HK-21, uma metralhadora de 7.62mm de fita não se adequavam às características da viatura, tentou-se redesenhar a torre para instalar um canhão de origem belga, mas também não se revelou eficaz e acabou por ser mais utilizada a metralhadora pesada Browning, de calibre 12.7 mm.
As primeiras unidades foram para a Guiné já nos anos 70, a seguir quer Moçambique quer Angola receberam as desejadas Chaimites para acompanharam os blindados mais eficazes até à data no Ultramar, as AML Panhard, estando todas as outras existentes em condições operacionais obsoletas e incapazes de corresponderem às necessidades dos militares.
Os "Dragões de Luanda" foi a unidade ultramarina que mais usou as Chaimites, quer a Guiné quer Moçambique nunca receberam as sete viaturas programadas (apenas 4 para cada província) e os dois esquadrões da unidade mantiveram-se activas até ao dia em que depois de arreada a bandeira portuguesa daquele território formaram uma coluna, sempre com as armas viradas para a cidade de Luanda, até aos batelões que as embarcaram no navio ao largo, o "Uíge", no dia 10 de Novembro de 1975.
Em Portugal, as Chaimite oriundas da Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, ficaram famosas pela sua visibilidade na Revolução do 25 de Abril de 1974. Marcello Caetano, presidente do Conselho do antigo regime, fugiu do Quartel do Carmo na Chaimite "Bula". O Regimento de Lanceiros 2 foram os primeiros a recebê-las no seu arsenal, mas também o Regimento de Comandos as utilizou com êxito no 25 de Novembro de 1975.
Vários países utilizaram o blindado português, como o Perú, Líbia e Filipinas. Diz-se que a Palestina terá recebido um exemplar que seria destruído pelo exército de Israel.
As últimas missões das históricas Chaimite seriam na ex-Jugoslávia, na Bósnia-Herzegovina e no Kosovo.
A Chaimite com uma torre armada de Browning 12,7 mmChaimite "Bula" evacua Marcello do Quartel do Carmo, no 25 de Abril
Chamite na Guerra na Guiné
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